A economia mundial começa a descobrir os Fatores Humanos.

fev 13, 2011 by

A economia mundial começa a descobrir os Fatores Humanos.

Artigo publicado em fevereiro de 2011.

 

José T. Thome

Nos últimos dias, dois textos publicados em jornais de grande circulação chamaram a minha atenção. No dia 19, o articulista Sérgio Telles, do Estadão,  veiculou O divã e a bolha financeira, em que comenta a “Proposta para Desenvolver uma Finança Emocional”, do Prof. David Tuckett. Pesquisa selecionada para receber bolsa através do Instituto para o Novo Pensamento Econômico (Inet, em inglês), de Nova York. E no último domingo, um dos editoriais da Folha, intituladoLivres para abusar. Em que sem entrar explicitamente no campo da psicanálise, o jornal abordou justamente a impossibilidade de haver desconhecimento, por parte dos bancos e fundos de investimento, ou seja, das pessoas que neles trabalham, sobre a incompatibilidade entre dividendos oferecidos e alternativas de investimentos, nas movimentações bilionárias realizadas por Bernard Madoff. E através da mesma linha de raciocínio, entre os papéis imobiliários supervalorizados através dos bancos e fundos, e a realidade das pessoas que contraíram tais financiamentos.Enfim, ainda que timidamente, o mercado financeiro sinaliza começar a compreender que por trás das sofisticadas teorias econômicas e das milhares de conjecturas sobre o futuro dos ativos econômicos em jogo no mundo, existem os Fatores Humanos. E que estes últimos não podem ser negligenciados, pois possuem o poder, singular, de transformar todo o resto em abstração.

Percebo com satisfação que o conceito de interdisciplinaridade começa a tomar corpo. E que a percepção sobre o emocional das pessoas envolvidas, não só no mercado financeiro em si, mas em toda a cadeia de relações econômicas que integra diferentes mercados, nações, culturas, não é mais interpretado como tão menos relevante, frente às decisões lógicas e racionais.

Tenho desenvolvido projetos ligados a populações expostas em situações extremas, em diversas regiões do país. E estudado tantas outras, em âmbito internacional. E seja em situações pós catástrofes climáticas, seja em disputas imobiliárias características de grandes metrópoles: o direcionamento Ecobioético, que propõe intervir a partir da abordagem transdisciplinar, colhe resultados práticos e se fortalece como modelo de atuação eficaz sob perspectivas múltiplas, tais como social, educacional, de Saúde e também econômica, entre outras. Por isso, espero que também o mercado financeiro brasileiro, os governos, e toda a sociedade civil, abram seus olhos para a força silenciosa, que pode simplificar as equações mais complexas, e inviabilizar projetos planejados como infalíveis. As pessoas.

 

José Toufic Thome
Psiquiatra-Psicoterapeuta (ABP/AMB)
CRM 16619